Como eu havia apostado com um bixo, a greve já ultrapassou
seus 45 dias corridos.
E estes 45 dias têm sido um tempo de muito nervoso e stress.
Fui e continuo sendo oposição, ninguém me apresentou um bom argumento para
mudar de lado até agora. O ponto auge e talvez decisivo para que pudéssemos
pontuar algumas coisas aconteceu em uma segunda-feira. Havia 40 grevistas e
militantes seguindo uma professora. Por acaso, ela é minha professora.
Beethoven e eu estávamos lá para ficar com ela e ficamos. 40 contra 3. Claro,
queríamos tirá-la dali e descer mas era necessário que o cara do TI fosse lá
para desligar o datashow. Tivemos que esperar o cara (que deveria estar com o
cu na mão) chegar para podermos descer. 2h de tortura. Foi bem próximo do
sentimento que eu tive quando escutei depoimentos de presos políticos do DOPZ.
Engraçado que estes caras, que seguem em 40 uma professora, são contra essa tal
ditadura aí que todos dizem! Abram os arquivos do fim da ditadura! - é o que
eles dizem.
Bom, também tenho os arquivos deste dia de ditadura. Filmei
toda a cena. Os caras jogando cadeiras para dentro da sala, depois fazendo
baderna e depois um "sarau" para humilhar a professora. Tentaram
tirar a câmera da minha mão, na tentativa, a moça ousada me deu um soco no
braço. Doeu por dois dias.
Foi difícil me controlar para não bater de volta. E tenho
evitado ir na faculdade por causa disso. Estou muito puta e tenho medo da minha
coragem.
Neste dia me controlei até o fim mas não sei até quando
conseguirei ser uma pessoa controlada e fina. Resolvemos permanecer afastados
da faculdade até essa greve acabar. Semana passada tive que ir porque os
professores convocaram uma reunião com os alunos para falar sobre o semestre,
expôr algumas situações hipotéticas do que poderia acontecer com as nossas
aulas. Bom, na verdade, fui só porque tenho a maior consideração pelos meus
professores porque eu não estou tão preocupada com o meu semestre. Sei me
virar. Todavia, a energia do campus está bem pesada e isso também tem nos feito
em pensar muitas coisas, inclusive em transferência de Universidade e as opções
são poucas.
Decidimos fechar a Gutenberg também. Não sei em quanto tempo
faremos isso mas enquanto as coisas se ajeitam já estou procurando outro
trabalho bem longe da faculdade, não vemos mais sentido em investir tanto
esforço e dedicação para ajudar alunos que colaboram com a destruição da
educação e do ensino (2 meses sem aula, sem nenhum ganho, vocês chamam isso de
Progresso?).
Em contrapartida, voltei a trabalhar na minha pesquisa. Os
autores que eu escolhi são realmente maravilhosos e o meu orientador também.
Acho que vai dar certo.
Estou tentando transformar este tempo sem aulas em algo
produtivo e esta semana por exemplo, estou indo para um Congresso de Literatura
Portuguesa na USP.
Beethoven e eu fomos convidados para apresentar uma leitura
dramática e foi muito divertido. Decidimos tudo com a professora (essa aí de
cima, ela havia nos convidado antes da greve, inclusive) em menos de 24h.
Formamos um trio que dá certo. (ou quarteto, se contarmos o Beethoven dela
também). Este foi um ganho da greve, um ganho nosso. Estamos construindo coisas
bonitas no meio do caos.
Cerveja e amigos já resolvem muita coisa.
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