domingo, 26 de junho de 2011

Réquiem

Por medo da solidão acabou sozinha em um quarto de hotel no ponto mais alto de seus 80 anos.
Assim esperava o fim da vida depois da morte do marido. Ah, o marido que ela amara tanto.
Com ele, quatro lindos filhos, muitos cachorros, gatos e flores.
Que sorte ter tido mais de um filho. Agora poderiam dividir as despesas entre si.
O quarto não era dos melhores, verdade. Mas tinha um banheiro de ducha quente e café da manhã.
Não precisava cozinhar. Comprava suas comidas diabéticas no começo do mês e assim não era preciso sair do quarto.
Na época da juventude tinha dois medos e um deles era a diabete, o outro, já mencionado nesta história era a solidão.
Agora sofria de ambos.
Era o momento das crianças, agora adultas, estudarem, trabalharem e criarem sua terceira geração.
Nos fins de semana, buscavam a senhora no quarto e a levavam para passear. Segurava os netos no colo enquanto sentada, pois sua coluna já estava retorcida há algum tempo.
Assistiam um filme, viam fotos antigas, uma peça de teatro, uma exposição, um passeio no parque, qualquer coisa.
Mas durante a semana, a vida era assim: Triste.
Pensou nisso ao cantar parabéns para si mesma diante de um bolo de chocolate diet.
Apagou as 80 velas que havia acendido cuidadosamente e depois foi dormir.

Miniconto

Naquela época carregava em sua bolsa de barraquinha muitas expectativas que com o
tempo tornaram-se frustrações que caíram uma a uma pelo chão de piso frio xadrez.
O chão não era realmente frio, tampouco o mundo duro.
Apenas tivera expectativas demais.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Miniconto

Sentia-se muito sozinha todas as manhãs e todas as manhãs pensava como sentia-se sozinha.
Já havia gostado da poesia e da estética das palavras mas depois de um tempo a vida tornou-se seca.
Acordava logo cedo ao escutar o barulho da porta do quarto abrindo e ficava deitada na cama contemplando a lâmpada por um tempo.
Depois disso, tomava coragem para levantar-se e dar certo naquilo que, por convenção, também chamava de vida.

sábado, 4 de junho de 2011

Epígrafe

Aqui jaz alguém que queria imitar Vírgilio, escrevendo sua própria epígrafe.
Aqui jaz alguém de coluna podre, joelho podre, apodrecendo por inteira.
Aqui jaz alguém que já foi e não é mais.