sábado, 3 de julho de 2010

Sobre o fim.

É o fim. Eu não te agüento mais. Daqui a pouco você vai pegar as minhas coisas e jogar pela janela. Daqui a pouco tu vai aumentar o fogo da lareira com a minha camiseta do coringão.

- E o cachorro? Com quem vai ficar?

- Você tá louca? Eu vou levar o cachorro daqui, o meu cachorro!

Ora essa, o cachorro nunca gostou de você, você sabe muito bem.

- Mas eu é que limpo a bosta do teu cachorro!

- Eu limpo todas as bostas que você faz. A janela que tu quebrou, o ventilador que tu queimou, a parede que você deixou ser destruída pela umidade.
E quer saber? Pode ficar com a geladeira.

A nossa geladeira. A geladeira que eu comprei com o vale presente que eu ganhei daquela pessoa especial. E quando me perguntarem com quem ficou a geladeira, direi que deixei para os meus filhos.

- Você está sendo uma mulherzinha!

- Você é uma mulherzinha há muito tempo.

O tempo todo eu tento não ser uma mulherzinha.

Eu me imagino em outro lugar, com outras pessoas. O tempo todo nossas escolhas são diferentes, tão diferentes que me diferencio , que me distancio.
Podemos amargar uma derrota e assim todo mundo ganha. Fique com toda a tua subjetividade, guarde-a dentro de um pote, junto com as cinzas da tua chinchila que morreu.


Desapega, vai.
E olha que eu sou apegada. O topo do meu guarda-roupa está repleto de bichos de pelúcia que provavelmente venho guardando desde o meu primeiro ano de vida.
E eu ainda não pensei em nenhum projeto para dá-los ás crianças pobres. E ora essa, eu também sou uma criança pobre.
O tempo todo me vejo lá embaixo, puxando a camiseta, esgarçando a camiseta do moço, pedindo uns trocados, uma esmolinha:

- Tio? Me dá carinho? Me abraça? Me beija?

E você sempre diz que não, que hoje não.

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