terça-feira, 10 de agosto de 2010

Mãozinha que aperta meu dedo.

E eu aprendi a receber o Caos. Ele é uma criança marota. Pego o caos no colo e aceito que tenho que levá-lo comigo.
Seria mais fácil deixá-lo em casa e andar sozinha. Fingir que não o tenho, fingir que não o fiz.
Mas eu o fiz e lembro desse dia, foram algumas fortes estancadas pouco abaixo do meu ventre, alguns carinhos, sorrisos e palavras doces.
E aqui está ele, é um filho. É um filho que não me deixa dormir. Pede cuidado e atenção o tempo todo.
E se eu não cuidar, ele crescerá e se tornará um homem mau, capaz de fazer uma pessoa durona chorar.
Por isso tenho que aceitá-lo e cuidar dele, o mundo já está cheio de homens maus e eu não quero formar mais um.
Se eu não cuidar...não tem ninguém. Não tem ninguém para registrá-lo, aceitá-lo e faze-lo melhor, não tem ninguém que tente educá-lo e faze-lo menos pior do que já é.
Não há disposição para cuidar de um filho nascido por acidente. E agora acredito que foi um acidente mesmo.
Um terrível acidente quando eu me encontrava sozinha no lugar errado e na hora errada ao tentar comer uma banana. E olha que eu ainda tomei o cuidado para não soltar a casca por aí, com medo de alguém escorregar.
Mas não foi um acidente. Algumas coisas não acontecem por acidente por mais que eu me esforce para acreditar que sim.
Ter um filho é tirar um pedaço de si, mas isso não me tornou mais fria, menos sensível.
Tentei fazer-me mais dura, mais seca. É necessário que alguém tenha maturidade para cuidar deste filho, mesmo que a idéia tenha sido só construir.
Nem pensamos em quebrar tudo e jogar o resto por aí. Mas ficou o resto, porque de tudo fica um pouco.
Ficou o resto e eu faço parte deste resto. Eu me sinto o resto, eu me sinto a parte que sobrou.
Mas ainda tem o Caos e é preciso cuidar dele. Podia parecer que sim, mas eu não fiz este filho sozinha, embora a responsabilidade de cuidar tenha vindo inteiramente para mim por falta de opção e excesso de omissão.
Vejo-me transpirando ao trocar as fraldas, porém, não posso enxugar meu rosto porque estou limpando toda a bosta.

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