Tinha poucos amigos. E ela os guardava com todo o carinho dentro da gaveta do quarto.
Qual o nome dele - eu perguntava - Gustavo - ela dizia - e por que o Gustavo mora lá? - Por causa da polícia.
Ao ser questionada sobre o Gustavo, ela mencionava o gorro vermelho que ele usava. - E qual o tamanho dele? - aí então ela esticava seus bracinhos diante do corpo.
E eu podia concluir: é do tamanho dela. Nunca perguntei o tamanho da gaveta em que o Gustavo mora. Uma vez ela falou que tinha a Lola também. Mas não lembro se morava lá por causa da polícia.
Um dia levei balas pra ela, numa tentativa de ser aceita na turma. Mas nunca fui convidada para morar na gaveta.
Cresceu, ganhou novos amigos e aquela gaveta tornou-se pequena.
"Vou guardar todos meus amigos num potinho e levá-los comigo", sempre que quiser, eu completaria.
Mas...alguns amigos não queriam dividir o mesmo potinho. "Tá, coloco vocês em potes separados".
Tá bom. Os amigos ficavam em potes, observando-as de longe. Fizera mais amigos do que jamais pudera imaginar.
Era um presente mais que perfeito. Pela tarde ela deitava na cama, para assistir um filme bobo e infantil, que ela já havia assistido várias vezes.
Depois ficava sozinha em um canto vazio, até alguém vir e perguntar, o que você está fazendo aí?.
Eram todos amigos imaginários.
Eu não existo.
Um comentário:
Triste..
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