quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Caverna

Meu coração é feito de pedra, entre cada pedra há algumas fendas e entre as fendas crescem pequenas platinhas verdes. Filhas da úmidade, filhas de um coração que de tanto contrair solta pequenas lágrimas com dificuldade.
No fundo há um baú. E neste baú guardo algumas mágoas. Com o tempo, tornam-se esquecidas.
Tem dias em que o velho baú abre-se sozinho e essas mágoas saem e permeiam todo o coração, deixando marcas de bolor pelo teto.
Nos outros dias, eu coloco uma toalha bonita em cima do baú, embaixo de um lindo vasinho de flores.
E desejo acreditar que tudo ficará bem.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Me faltam novidades.

Tirando o velho você dá espaço para o novo entrar.
É, mas as vezes é muito difícil tirar o velho. Porque há o apego.
Há o tempo o qual as coisas estiveram guardadas aqui.
Guardei tudo isso por tanto tempo, que é quase muito estranho retirar-las daqui.
Mas hoje, assumi para mim mesma, chamei todas aquelas coisas velhas que não me acrescentavam nada e só me causavam desconforto, chamei todas aquelas coisas de lixo. E separei em sacos e tirei tudo daqui.
E agora estou mais leve. Agora eu vou assistir um filme, agora eu vou andar.
Agora o novo poderá entrar porque eu tirei o velho.

No entanto, sei que as vezes o velho não sai de jeito nenhum.
Mas tudo bem, se o velho não sair tudo bem. O novo entra pela fresta.
E é pela fresta que entra a luz.

sábado, 8 de janeiro de 2011

35 minutos.

A primeira que vez que viajei de avião foi aos 20 anos. Antes de chegar ao aeroporto voltei em casa porque havia esquecido o celular.
Demorei um tempo até encontrar um lugar para estacionar o carro e mais tempo até achar o guichê da agência.
Não entendo nada de viagem de avião. Não coloquei minha mala na esteira, isso deve ser para as malas acima do peso.
Ao descer, a moça disse que se eu demorasse mais um pouco eu perderia o vôo. E olha que eu desci no horário escrito naquele bilhetinho.
Me enfiaram numa van e depois subi aquela escadinha do avião. Olhei para o comandante e disse um bom dia, bom dia para todos nós porque eu nunca tinha viajado de avião.
Atrasada, andei com a minha mala até o final do corredor, onde parecia ser o meu lugar, a espera de uma resposta.
Havia um moço fazendo palavras crruzadas ao meu lado. E mesmo assim eu nunca me senti tão sozinha. Sozinha em tantos sentidos.
Esperava mais deste momento. Esperava uma mão para segurar, alguém que escutasse o quanto sair do chão foi um momento esperado.
A expectativa para um evento é sempre melhor que o evento em si, é o que dizem.
As aeromoças deram as indicações do que fazer em caso de emergência. Não decorei nenhuma informação, se essa porra cair, morro e pronto.
Mas eu ganhei essa passagem, não podia fazer feio. Enquanto elas decupavam aqueles gestos, tentei disfarçar a minha solidão e abri um livro.
Chorei, chorei, chorei, não era saudade, não era medo não, era solidão, a minha solidão.
Meu pai disse que eu poderia pedir uma cerveja para dar uma relaxada. Mas não tinha cerveja naquele avião.
Tinha serviço de bordo e eu me descobri faminta ao comer aquele lanche.
O moço ao lado resolveu conversar comigo. Mas não dava pra escutar nada, meus ouvidos estavam totalmente entupidos.
Eles desentupiram no momento do pouso, quando a minha cabeça bateu no banco da frente.
O moço ajudou a carregar minha mala até o fim.

Sempre achei que saber chorar no momento certo é importante.