No teatro também aprendi que o fim existe. O fim de um ciclo. Qual ciclo? Não sei. O nosso, o só meu, o só seu, um ciclo e existem tantos ciclos, sabe.
Um dia ele chegou, aquele cara que dividia a marmita, a cerveja, iluminava palcos e a minha vida, tocava a música e me fazia sorrir, com tudo de louco e insano.
Aquele cara que várias vezes, eu dividi a cena e construí uma nova.
Um dia ele disse que precisava ir embora. E dissemos que ele podia voltar e era verdade.
No começo foi estranho. Era a primeira vez, sabe a primeira vez de alguma coisa? Não dava pra imaginar a vida com aquele buraco.
Ele estava em todos os lugares, em todas as esquinas, em cada doce, em cada texto e em cada marcação.
Mas era necessário algo novo. E por necessidade, não tivemos medo. Abrimos o nosso coração e a nossa casinha e dissemos - Vem, pode entrar, você é novo e você é bem vindo.
E ele entrou.
E ás vezes lembramos desse dia. Começou como quem não queria nada. Eu liguei e disse:
- Oi...sabe o que é? Hoje é sábado. Estou tão sozinha. Não podemos dançar?
Ele disse:
- Comigo? Mas eu acabei de chegar!
E eu não tive medo. E foram momentos doces.
O garotinho de cabelos ruivos, nunca deixou de estar aqui. Vez ou outra nos encontramos e conversamos e damos risadas.
E o outro garoto também foi embora já, mas sei que vez ou outra também nos encontramos e conversamos e damos risadas.
Antes do segundo garoto dessa história ir embora, outros queridos se foram também. E dessa vez eu sabia lidar com a situação.
Dessa vez eu soube respirar e consegui dividir o bolo de padaria no momento seguinte. E tudo bem.
Dessa vez, não havia um buraco.
Dessa vez eu sabia que só precisámos de um momento, um tempo, para que trocássemos de lugar.
Um dia eu tava numa peça e ouvi alguém dizer "Eu transformo".
E eu resolvi transformar sempre.
Porque a gente só precisa achar o lugar onde conseguimos nos sentir melhor.
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