terça-feira, 23 de novembro de 2010

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Efêmero

Ele a encontrará sentada na sarjeta fumando um cigarro num dia pobre.
Ele se aproximará e dirá: Oi. Ela responderá o Oi, ainda sem empolgação.
E eles conversarão, ele em nenhum momento irá se incomodar com o fato dela usar uma camiseta rasgada nas mangas, uma calça jeans surrada e um all star sujo.
Ele não se incomodará com nada, porque ela será receptiva,
Ele saberá sobre tudo, todos os filmes, todos os livros e tudo. Ele saberá tudo sobre tudo.
Ele saberá coisas que ela nem mesmo pode imaginar que existem.
E ela estará fumando e pensando em todos os livros que abandonou antes de chegar na metade e em todos os filmes que não conseguiu chegar ao fim.
Mas ele irá acha-la interessante, mesmo assim, contudo.
Contudo, ela sorrirá ao pensar nessa possibilidade.
Mas não se surpreenderá ao constatar que era a única garota da rua.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Outro miniconto sem título.

- Mãe, ele me seguiu até aqui. Posso ficar com ele?

Pensou que a mãe diria:

- É mesmo? Mas você mora tão longe, como você diz, tão afastada da civilização. Como ele conseguiu te seguir até aqui?

No entanto, a mãe respondeu:

- Ok, pode convidá-lo para entrar. Mas quem vai cuidar, é você, entendeu? Quem vai dar comida é você, dar banho, é você, levar pra passear, é você. E você que vai limpar a sujeira!

Imediatamente afastou os móveis e deixou para o novo membro de sua vida, um espaço.

Ela disse:

- Vou te chamar de Rex!

E ele fez cara de interrogação.

- Oras, mas rex é tão bonito....rex, hei rex, rex vem buscar o teu jantar!

Ele abanava o rabo e sabia muito bem como ganhar uma recompensa.

Pensou que não era necessário uma coleira. Alguém poderia encontrá-lo na rua. E qualquer pessoa seria capaz de dizer:

- Sei quem tá cuidando de você, é evidente. Acho melhor você voltar pra casa, daqui a pouco vai chover!

E ele tomaria chuva na cabeça e ficaria pensando, em tudo que já estragou, tudo que já sujou e aquilo deixaria a chuva escorrendo nos pêlos de sua cabeça de forma mais triste.
Triste porque preferia não dar trabalho algum, embora fosse bom ser cuidado por alguém com tanto carinho e compreensão.

Havia um tapete seco no batente da porta. E ela o esperava com uma toalha felpuda em mãos para poder enxugá-lo. Agora já sabia como enxugar.
No final das contas, depois de tanto tempo, era necessário alguém para ela cuidar nas noites de chuva.
E de frio.
E de calor também.
Em todas as noites, era o que ela pensava.

Sempre haveria espaço, todo o espaço.

Hanshen, parte um de mim.

No teatro também aprendi que o fim existe. O fim de um ciclo. Qual ciclo? Não sei. O nosso, o só meu, o só seu, um ciclo e existem tantos ciclos, sabe.
Um dia ele chegou, aquele cara que dividia a marmita, a cerveja, iluminava palcos e a minha vida, tocava a música e me fazia sorrir, com tudo de louco e insano.
Aquele cara que várias vezes, eu dividi a cena e construí uma nova.
Um dia ele disse que precisava ir embora. E dissemos que ele podia voltar e era verdade.
No começo foi estranho. Era a primeira vez, sabe a primeira vez de alguma coisa? Não dava pra imaginar a vida com aquele buraco.
Ele estava em todos os lugares, em todas as esquinas, em cada doce, em cada texto e em cada marcação.
Mas era necessário algo novo. E por necessidade, não tivemos medo. Abrimos o nosso coração e a nossa casinha e dissemos - Vem, pode entrar, você é novo e você é bem vindo.
E ele entrou.
E ás vezes lembramos desse dia. Começou como quem não queria nada. Eu liguei e disse:

- Oi...sabe o que é? Hoje é sábado. Estou tão sozinha. Não podemos dançar?

Ele disse:

- Comigo? Mas eu acabei de chegar!

E eu não tive medo. E foram momentos doces.

O garotinho de cabelos ruivos, nunca deixou de estar aqui. Vez ou outra nos encontramos e conversamos e damos risadas.
E o outro garoto também foi embora já, mas sei que vez ou outra também nos encontramos e conversamos e damos risadas.

Antes do segundo garoto dessa história ir embora, outros queridos se foram também. E dessa vez eu sabia lidar com a situação.
Dessa vez eu soube respirar e consegui dividir o bolo de padaria no momento seguinte. E tudo bem.
Dessa vez, não havia um buraco.
Dessa vez eu sabia que só precisámos de um momento, um tempo, para que trocássemos de lugar.

Um dia eu tava numa peça e ouvi alguém dizer "Eu transformo".

E eu resolvi transformar sempre.

Porque a gente só precisa achar o lugar onde conseguimos nos sentir melhor.